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Encontro de Jovens Ativistas: cinco dias de tudo

artigo escrito por Inês Diogo.

Pediram-me para falar sobre o EJA e tornou-se uma tarefa difícil, achei-me perdida à procura de palavras para o descrever, sem sucesso. Não há palavras que descrevam cinco dias e quatro noites de puro “tudo”, porque isso é o EJA, um misto de sentimentos e sensações para os quais ainda nem inventaram nomes, talvez seja um sentimento por si só. O EJA é nada mais e nada menos que o EJA. Consegui, por fim, culminar este misto de sentimentos e sensações numa expressão de três palavras: “céu na terra”. O EJA sabe como um cantinho de paz à parte de tudo o resto, isolado e escondido, como estar dentro de uma bolha de bondade, positividade e aceitação durante cinco dias. Passou a fazer parte da minha vida e atribui-lhe todo um significado, trouxe-me experiências que nunca imaginei precisar. Fez-me crescer.

O programa centra-se na partilha e discussão, tal como na aprendizagem sobre os Direitos Humanos e como os promover fora do EJA. Em 2022 focámo-nos no conflito ucraniano, debatemos também sobre outros, como o do Myanmar, da Palestina e da Síria. Neste sentido, tivemos a oportunidade de ouvir a Dzvenyslava Shcherba, uma ativista ucraniana de Kiev, coordenadora de ativismo da secção da Ucrânia da Amnistia.

Voltei a ouvir o testemunho do Ahmad Omar, um refugiado sírio que tive o prazer de conhecer em 2017, numa altura em que ele ainda não falava português. Sentir a diferença de compreender diretamente a sua experiência, fez com que o ouvíssemos com o coração e com mais empatia, uma vez que a sua história foi contada na primeira pessoa.

Uma das coisas mais bonitas do EJA é aprendermos uns com os outros, ensinar e ser ensinado, é algo que o leque variado de participantes e monitores nos proporciona. Fui confrontada com novas realidades e pessoas de todos os tipos, muitas com as mesmas experiências que eu, o que a certo ponto contribuiu para o meu autoconhecimento.

Criei ligações super genuínas, puras e autênticas, com base na nossa causa em comum – estamos todos ali para o mesmo, aprender sobre Direitos Humanos e lutar por eles, a ligação é quase automática. Ganhei amigos nos quais tenho plena confiança e cinco dias com eles pareceram uma vida toda, para além daqueles que pude rever, por ser repetente no EJA desde 2019. Falar não se torna um problema e o facto de as pessoas não nos conhecerem e não terem ideias pré-concebidas de nós torna-se libertador. Somos divididos por equipas, que se tornam mini famílias durante o encontro – partilhamos e refletimos juntos, entreajudamo-nos. Isto é a essência do EJA. O EJA não é um programa, são as pessoas.

Deram-nos a liberdade de nos fazermos ouvir e falar sobre temas que nos interessavam. Pudemos dinamizar sessões sobre o que quiséssemos, e eu agarrei essa oportunidade e propus uma conversa sobre identidade de género, um tema muito curioso e pessoal para mim na altura. Cerca de 20 pessoas juntaram-se a mim para debater este assunto e fez-me extremamente feliz saber que não estava sozinha nesta “procura por respostas” e interesse geral no assunto. Houve testemunhos fantásticos e trocas de ideias, tornando-se um espaço seguro para perguntas, sem qualquer julgamento; mais uma vez, trocámos conhecimentos e aprendemos uns com os outros.

Aprendemos sobre outras organizações ativistas através dos testemunhos de participantes que nos falaram um pouco das suas experiências, como a Greve Climática Estudantil, por exemplo.

O programa incluía momentos de reflexão, de trabalho, de partilha e de aprendizagem, tempo para brincar, para descansar e até tempos livres, que podíamos aproveitar como quiséssemos. Isso foi uma das coisas boas que um EJA de cinco dias nos deu, a oportunidade de conjugarmos e balançarmos todos estes momentos, tornando o encontro muito mais leve. As atividades que nos entretinham eram basicamente três: nadar na piscina da pousada, fazer sestas à sombra das árvores, e brincar com os dois gatinhos que resgatámos, o Pace e o Pablo, que as queridas senhoras da pousada adotaram depois do EJA acabar.

A oportunidade de sabermos mais sobre o trabalho bastante diversificado da Amnistia também surgiu, com uma atividade chamada Biblioteca Humana. A curiosidade acabou por me levar a ficar no mesmo “livro” durante toda a atividade e acabámos por fugir para outros temas várias vezes. Esta conversa despertou em mim uma vontade de me envolver mais com a Amnistia e de maneira mais direta – acho que este diálogo me abriu portas e continuará a abrir ao longo do meu percurso como ativista. Durante este ano tenho tido várias oportunidades de “colaborar” com a Amnistia, tal como escrever este artigo, que é apenas um pedacinho da experiência do EJA.

Falando agora do pós-EJA, é difícil sairmos desta bolha que falei no início – somos confrontados com um mundo feio e cruel. A verdade é que, se o mundo fosse metade daquilo que o EJA é, viveríamos todos num lugar melhor, mas, não o sendo, aproveito para enfrentar isso como um desafio e pôr em prática aquilo que o encontro me deu. Usarei a minha voz para me fazer ouvir, gritarei e lutarei pelos Direitos Humanos sempre que seja necessário até ao dia em que a vida me silenciar para sempre.

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