Nos últimos anos o ativismo jovem alcançou uma grande relevância a nível nacional e internacional. A Amnistia Internacional em Portugal, ao abrigo da Estratégia de Juventude 2020-2025, tem desenvolvido iniciativas e mecanismos para incentivar a participação de jovens não só no ativismo como também na governança da secção.
Jovens com idades entre os 14 e os 17 anos podem começar o seu percurso na Amnistia Internacional enquanto membro juvenis, participando, sem (ainda) direito ao voto, nas Assembleias Gerais e em outros espaços de partilha e debate.
Rui Queridinha e Neele Baronigg são dois recém-membros juvenis. Cada um com o seu percurso ativista, têm em comum quererem crescer no seu envolvimento com a Amnistia Internacional e com os direitos humanos.
Como te envolveste como jovem ativista na Amnistia Internacional?
Rui:
Foi há três anos quando a minha escola abriu inscrições para participação no Encontro das Escolas Amigas dos Direitos Humanos. Foi tocante, foi ultrapassar muitos estigmas, muitos preconceitos que me tinham sido impostos. Foi uma descoberta. Percebi que não gostava só de falar de direitos humanos, gostava de refletir sobre todas as causas e as consequências da luta.
Neele:
Tive o primeiro contacto na escola, através da professora de filosofia que informou os alunos sobre o EJA de 2022. Interessei-me, inscrevi-me e continuei a participar em campanhas e atividades da Amnistia.
Como foi participar em projetos como o Encontro de Jovens Ativistas (EJA)?
Rui:
Participar no EJA foi diferente, porque tive a confirmação no contacto direto com as pessoas na atividade do face-to-face. Senti-me realizado por estar a fazer aquilo que eu queria. Conversar com as pessoas e mostrar que há um outro lado e que por trás da nossa vida perfeita há sempre alguém que sofre, levar as pessoas a verem e a lutarem por esse lado.
Neele:
Participar no EJA foi interessante, aprendi muitas coisas novas. Ajudou-me a sair da minha zona de conforto, a aprender mais sobre ativismo, sobre o qual não sabia muitas coisas, especialmente sobre o ativismo ligado aos direitos humanos. Sempre estive mais ligada a problemas ambientais e não sabia muito sobre os direitos humanos. Então foi uma experiência que me abriu os olhos sobre outros problemas de que não sabia tanto.
O que é para ti o MAPA?
Rui:
Conheci o MAPA no primeiro encontro em que participei e foi o primeiro passo para trabalhar com os direitos humanos além da escola. Porque por muito que se participe e trabalhe, estamos limitados à escola. Com o MAPA conseguimos ir mais além, ter mais atividades, além da possibilidade de ter mais conhecimento e informação para estaremos mais situados sobre o que se passa [no mundo].
Neele:
O MAPA é muito bom para jovens ativistas ou jovens que se querem tornar ativistas. É um espaço com pessoas da Amnistia, pessoas que realmente trabalham com ativismo e direitos humanos e é, ao mesmo tempo, um sítio onde podemos expressar as nossas opiniões e sentir que realmente são ouvidas e respeitadas. Penso que é uma plataforma boa para pessoas da minha idade, ou mais ou menos da minha idade, se informarem acerca dos direitos humanos e de problemas que estão a acontecer no mundo, mesmo que não saia muito nas notícias, e também para aprenderem o que podem fazer para ajudar certas causas.
Como foi participar na Campanha de Angariação de Membros jovens (CAM) e a Campanha Jovem?
Rui – Campanha Jovem:
A Campanha Jovem foi o segundo projeto em que participei e foi algo novo e um pouco mais focado, onde os participantes tinham de construir os passos que tinham de dar. Tínhamos uma grande responsabilidade, mas foi bom ver o fruto do trabalho. Foi uma experiência incrível. No princípio estava apreensivo. Como é que poucas pessoas podiam fazer um plano nacional, mas no final, termos conseguido alcançar as nossas metas foi incrível.
Neele – Campanha de Angariação de Membros:
Contribuir para a CAM foi interessante até porque já estava envolvida com algumas coisas da Amnistia, mas não sabia muito bem como funcionava, o que era ser membro, mas foi uma maneira de perceber como funcionam esse tipo de campanhas e de realmente estar envolvida nelas, e de aprender um pouco mais sobre como é que a Amnistia funciona e se sustenta.
O que aprendeste em todas estas experiências e o que te motiva para o ativismo?
Rui:
Nestas experiências foi aprendendo a sair do egoísmo e a perceber que há mais coisas no mundo. Por muito que nos sintamos sós, há mais pessoas para lutar por uma causa. Juntos somos mais fortes e isso deu-me um gosto e uma motivação para lutar pelos direitos humanos.
Neele:
Aprendi várias coisas sobre direitos humanos (realmente não sabia quase nada). Aprendi que vários temas com os quais me preocupava também estavam ligados aos direitos humanos. Por exemplo, o problema do aborto. Há uns anos que tenho noção desse problema e tenho as minhas opiniões, mas nunca tinha ligado isso a um problema de direitos humanos. Além disso, aprendi a respeitar mais outras opiniões, algo com que tinha dificuldade, pois onde eu vivo as mentalidades são muito fechadas. Agora, como conheci pessoas de vários sítios do país, com diferentes experiências, tornou-se mais fácil estar um pouco mais de mente aberta em relação às outras opiniões.
O que te motiva no teu ativismo?
Rui:
O que me motiva é vermos o fruto do nosso trabalho, quando, como na Maratona de Cartas, as pessoas são libertadas. O facto de ser uma atividade em que […] alguém tem de dar o primeiro passo para quem está ao nosso lado também o dar. É coletivo, não é individual, e o facto de não nos sentirmos sozinhos, também é muito motivante.
Neele:
Sempre estive motivada para fazer alguma coisa que esteja relacionada com o ativismo. Acho que desde pequenina fui educada a saber que essas coisas são importantes e o que é que os ativistas faziam. Então basicamente, quando tive oportunidade de fazer parte, decidi participar.
O que te levou a tornares-te membro juvenil da Amnistia Internacional?
Rui:
Antes de me tornar membro juvenil da Amnistia Internacional confesso que tive um pouco de medo, porque não tinha assim tanto conhecimento, mas depois deu-me aquele clique que, se uma pessoa não tiver a iniciativa de querer aprender, de querer saber, de não ter medo de perguntar, também nunca vai aprender. O que me levou a tornar-me membro juvenil foi, não só ter mais conhecimento, mas também poder influenciar outras pessoas a querem fazer mais. E isto é uma coisa que nos dá motivação. Não foi fácil, mas tive de dar um passo em frente.
Neele:
Tornei-me membro juvenil para me envolver mais com a Amnistia, a primeira organização de ativismo com quem me envolvi. Como também participei na CAM, tinha mais ou menos noção do que realmente era ser membro e quis estar mais envolvida. Além disso, vi isto como uma oportunidade para aprender mais sobre ativismo e sobre a Amnistia em geral.
De que forma a Amnistia pode envolver mais os jovens, a partir dos 14 anos?
Rui:
Esta questão do ativismo é algo que deve ser proporcionado aos jovens. No meu caso, foi o Encontro das Escolas Amigas. Há escolas que não têm este projeto e acho que deviam ter para chegar a mais jovens. Para que pudessem encontrar mais cedo aquilo que eu encontrei, o amor pelo ativismo. A voz juvenil traz-nos muitas vezes as grandes dificuldades pelas quais os jovens passam, acho que ter uma voz jovem seria mesmo muito importante. Para a envolver mais jovens a partir dos 14 anos, deviam ser criados projetos especificamente a estes jovens. Por exemplo, lançar algo que abrangessem as escolas destas faixas etárias, [fazer] uma espécie de Encontro das Escolas Amigas e que pudesse dar a conhecer aos jovens o que é a Amnistia e de que forma se podem envolver. Acho que dessa maneira poderíamos dar voz aos jovens.
Neele:
Sinto que agora já haver a oportunidade de se ser membro juvenil foi mais um passo para os jovens de 14 anos estarem mais envolvidos. Penso que estando envolvidos em coisas deste género os jovens têm a oportunidade de ver as suas opiniões valorizadas e realmente respeitadas. Porque, no dia a dia, se alguém de 14 anos tem uma opinião, as pessoas tendem a não leva-la tão a sério, mas se eles se envolverem mais neste tipo de coisas, e sentirem que são respeitados, podem ser mais motivados a realmente pensarem sobre as coisas e terem uma opinião.
De que outras formas concretizas o seu ativismo para além da Amnistia?
Rui:
O meu contacto com o ativismo na Amnistia levou-me a procurar, investigar outros tipos de ativismo. Comecei por participar na recolha de bens para o Banco Alimentar. Depois participei em manifestações da comunidade LGBTQA, nas manifestações pelos direitos das mulheres e da greve climática estudantil. Estas participações vieram ao encontro de querer encontrar algo mais.
Neele:
São poucas e simples, porque onde eu vivo não há muitas oportunidades. Estou num grupo de voluntariado da ADA CLDS de Portel, onde participo em campanhas como o Banco Alimentar e na escola estou no Clube Ubuntu da Academia de Líderes do Ubuntu. Neste clube organizamos vários tipos de campanhas como campanhas de sensibilização para problemas como o bullying e campanhas de angariação bens essenciais, como roupas, comida, etc., para pessoas mais desfavorecidas, que vivem em Évora, ou também para vítimas de problemas como a guerra da Ucrânia ou do sismo da Turquia.
Que livro ou filme sobre direitos humanos recomendas?
Rui:
A “Intervenção Divina” de Elia Suleiman e “O julgamento” de Leonel Vieira. São dois filmes relacionados com os direitos humanos que me marcaram. E de cada vez que os revejo, descubro mais pormenores que realmente são bastante significativos, pelo menos eu gostei.
Neele:
“O ódio que semeias” de Angie Thomas. É um livro muito bom, gostei bastante de o ler. É um livro sobre o racismo nos Estados Unidos da América, sobre como a violência policial é muitas vezes ignorada e como isso leva à morte de várias pessoas negras sem, depois, haver consequências. Penso que o livro fala muito bem sobre isso.
Que conselhos queres deixar a quem se quer tornar ativista da Amnistia Internacional?
Rui:
Vou falar um pouco contra mim mesmo, porque comecei por participar influenciado por colegas meus que tinham vontade de participar. Eu fui porque eles foram. Fui influenciado. Mas foi algo muito bom, porque no mundo do ativismo sentimos o “eu” coletivo, sentirmos que não estamos sozinhos. Acho que devem dar o primeiro passo e procurar o ativismo, dentro da área da Amnistia ou outro tipo de ativismo. Lutamos para um mundo melhor. Eu acho que se temos amor e respeito ao próximo, [o ativismo] é uma grande demonstração do que nós podemos fazer.
Neele:
Aconselho que pesquisem se há algum sítio, nas suas localidades ou perto, onde eles possam fazer alguma coisa que tenha que ver com ativismo. Se encontrarem algo, acredito que devam começar por participar em coisas mais “pequenas”, como o EJA, para lentamente começarem a ligar-se com o ativismo e para verem se é nesse tipo de organização que querem participar ou se querem encontrar outra coisa qualquer com que se identifiquem mais.
Se quiseres saber como te tornar membro da Amnistia espreita aqui (14-17 anos // > 18 anos).