artigo escrito por Ianira Vieira.
Durante a semana de 13 a 19 de abril, estive presente no One Ocean Week em Bergen, Noruega, como parte do One Ocean Youth Panel, inspirado no High Level Panel for a Sustainable Ocean Economy.
Participar do One Ocean Youth Panel foi uma experiência emocionante, significativa e frenética, mas, acima de tudo, proporcionou-me uma plataforma estimulante para capacitação e ativismo.
Para a maioria de nós, o percurso até One Ocean Youth Panel foi diferenciado. Algumas pessoas receberam convites do município de Bergen, outras pessoas se candidataram através de embaixadas e um outro grupo soube da oportunidade por meio de redes e organizações que têm contato com o município de Bergen, que visava reunir um grupo de pessoas de diversas proveniências a fim de apresentarmos os desafios locais, os argumentos e as propostas relacionados com os oceanos, tendo como foco os 10 desafios para a Década dos Oceanos.
O grupo final foi composto por 16 pessoas, de 18 e 28 anos, todas com perspetivas únicas de conservação e sustentabilidade dos oceanos, incluindo representantes de comunidades indígenas e locais, cientistas, ativistas, e aqueles com experiência em políticas e governação.
Individualmente, os membros de One Ocean Youth Panel destacaram as consequências de políticas tomadas longe da costa que ameaçam os recursos dos quais as comunidades costeiras dependem para o seu sustento e subsistência. Apontando a importância de uma abordagem holística à conservação marinha, que reconheça as contribuições e interesses únicos das comunidades indígenas, tendo em vista na economia marítima internacional os direitos das comunidades locais de segurança alimentar, transparência e avaliação de recursos que integrem considerações económicas, ambientais e sociais e considerações sobre a ética do comércio internacional e políticas de pesca em territórios disputados, foi enfatizado a responsabilidade dos Estados na extração sustentável de recursos que afirma os direitos e meios de subsistência das populações locais e indígenas através de uma prática mais ampla em que a extração de recursos deve ser equilibrada com a participação e inclusão das comunidades locais.
Por outro lado, como grupo, o nosso propósito era claro: desafiar os decisores políticos em One Ocean Summit, que ocorreu no dia 15 de abril em Håkon’s Hall, e articular as nossas visões de uma governança sustentável no One Ocean Youth Panel, no dia 17 de abril, aos decisores do sector público, às empresas, ao meio académico e à sociedade civil em geral.
De facto, a cimeira, One Ocean Summit, proporcionou-nos a participação numa plataforma de alto nível, ampliando as nossas mensagens concertadas aos que têm o poder de definir o curso das políticas públicas.
Primeiramente, antes da cimeira, reunimo-nos durante o fim de semana para momentos de capacitação com dois mentores, Pia e Jahawi, para debater ideias e desenvolver mensagens que tínhamos a intenção de disseminar durante a cimeira.
Durante a cimeira, o ambiente foi inclusivo, uma vez que as representantes de One Ocean Youth Panel ocuparam posições no palco, permitindo aos membros interagir diretamente com as estruturas de poder, refletindo formas de participação significativa.
Nomeadamente, Amber LeBlanc e eu representamos One Ocean Youth Panel no painel denominado “The Ocean we need”, moderado por David Eades, inquirindo o primeiro-ministro da Noruega, Jonas Gahr Støre, Alison Clausen, Deputy Global Coordinator of the UN Decade of Ocean Science for Sustainable Development at IOC-UNESCO, e Nils Gunnar Kvamstø, CEO do Instituto de Pesquisa Marinha da Noruega, acerca de mineração em mar profundo, sistemas e formatos que muitas vezes dificultam a colaboração e o diálogo, e implementação de sistemas de “accountability” nos acordos internacionais.
Mira Santos, do One Ocean Youth Panel, foi uma das pessoas que discutiu sobre “Ocean health and human well-being” num painel com a Professora Karyn Morrissey, coautora de Ocean Panel Blue Paper, e afiliada à Universidade Técnica da Dinamarca, Nnimmo Bassey, Diretor da Fundação Health of Mother Earth e Camilla Stoltenberg, CEO de Centro Norueguês de Pesquisa NORCE. Mira partilhou o impacto que a degradação da saúde dos oceanos teve no seu agregado familiar e os efeitos que o declínio da saúde dos oceanos, em especial na cadeia de fitoplâncton — tema do seu estudo enquanto bióloga no MIT — pode provocar na saúde humana.
No encerramento da cimeira, Rabea Rogge, em representação do One Ocean Youth Panel, proferiu as declarações finais, realçando valores como coragem, curiosidade, colaboração, transparência, inclusão e a responsabilidade de partilhar recursos, conhecimentos e práticas. Estes valores devem constituir elementos fundamentais na abordagem das questões críticas que ameaçam a sustentabilidade e a saúde dos oceanos, tais como a poluição, a sobrepesca, a destruição de habitats e as alterações climáticas.
Um mês depois, refletindo sobre One Ocean Week, reconheço o quão significativo foi a minha participação. Enquanto parte do One Ocean Youth Panel, questionámos, deliberámos e formulamos sobre os desafios multifacetados dos mares e oceanos — desde as alterações climáticas e a poluição até à perda de biodiversidade e à distribuição equitativa de recursos, partilhando, assim, os nossos compromissos de garantir que as nossas ideias tivessem um impacto nos diálogos de alto nível de decisão. Contudo, também aspiramos mais. O One Ocean Youth Panel pretende superar a inércia de plataformas internacionais e impulsionar ações e iniciativas globais e locais para a sustentabilidade dos oceanos. Além disso, o One Ocean Youth Panel ambiciona servir de uma estrutura que garanta um diálogo contínuo, formal e sustentado com decisores políticos, nas esferas nacionais e internacionais.
Por parte de One Ocean Youth Panel, existe um grupo de agentes de mudança experientes em diversas áreas e vivências que podem orientar um futuro mais sustentável e resiliente dos oceanos. Por agora, precisamos de valores, recursos e processos que nos permita alcançar esses objetivos.
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One Ocean Youth Panel é composto por Amber LeBlanc (Canadá), Chineye Rebone Chikwado (África do Sul), Christine van der Horst (Países Baixos), Daniel Caceres Bartra (Peru), Emilia Berndtsson (Finlândia), Fatma Moulay (Sahara Ocidental), Ingeborg Rønning (Noruega), Laisa Nainoka (Fiji), Leno Ignatious (Índia), Ianira Vieira (Guiné-Bissau/Portugal), Miraflor Santos (EUA/Filipinas), Nivi Rosing (Gronelândia), Rabea Rogge (Alemanha), Rofayda Fayed (Egipto), Titilope Ajimuda (Nigéria).
Imagem de Ole Henning Bøe